quando ela morreu, o mundo, infelizmente, não cessou. e os dias passavam
agora penosos, eras a cada lua. na floresta onde caçavam, vagueava
inconscientemente, entorpecido. havia um vazio nos seus olhos que só
viam
saída nas lágrimas cheias que pendiam, permanentes.
quando ela morreu, o mundo, infelizmente, continuou. e ele, perdia a
continuidade do seu ser, um pedaço de alma, como um pedaço da vida.
narciso arrastava os pés por entre as árvores. eco seguia-o sentindo a
dor.
nas sombras oblíquas da floresta, por onde haviam passeado as musas nas
horas matinais que se iam e por onde hades passearia nos instantes que
se
seguiam em busca de perséfone para se saciar, jazia um lago que
reflectia o
céu por entre folhagens. quando caiu, debruçou-se,
infinitamente triste sobre
as águas espelhadas e serenas.
ali, mesmo ali, jazia a imagem gémea dela. não mais desviou seus olhos
da
água que chorava com ele. eco, bela, olhou seu corpo moribundo e
chorou.
no lugar onde narciso adorou a sua irmã, deixou uma flor que ali
cresceu.
Miguel Tiago