Friday 18 May 2012

APOCALIPSE


É o cavalo do tempo a galopar...
Ninguém pode detê-lo.
Vê-lo,
é ver, a sonhar,
um relâmpago a rasgar
o céu dum pesadelo.

Deixa a desolação por onde passa.
Torna os sonhos maninhos.
Desmente os adivinhos
que, na divina graça
de feiticeiras alucinações,
prometem duração às ilusões.

Besta infernal,
com asas de morcego
e raiva desbocada,
largou do prado onde pastava ausente,
e corre, corre, em direcção ao nada,
única direcção que a fúria lhe consente.

Miguel Torga