Tuesday 3 April 2012

«CANTAR ALENTEJANO»


1 - Os homens e as bestas

«As balas deram sangue derramado»:
Catarina, em Baleizão - faz hoje 55 anos;
Alfredo Lima, em Alpiarça;
José Adelino dos Santos, em Montemor-o-Novo;
e, outra vez em Montemor-o-Novo, António Caravela e José Casquinha.
Os assassinos: os grandes latifundiários e os seus serventuários de antes e de depois do 25 de Abril.


2 - Balanço trágico

Milhares e milhares de homens, mulheres e jovens perseguidos, presos, torturados: no tempo do fascismo - e no tempo da ofensiva contra a Reforma Agrária;
o Alentejo em estado de sítio, ocupado pelas forças repressivas: no tempo do fascismo - e no tempo da ofensiva contra a Reforma Agrária.
O Alentejo do latifúndio, com herdades entre os 1 000 e os 10 000 hectares: no tempo do fascismo - e no tempo posterior à destruição da Reforma Agrária.


3 - O tempo novo

A Reforma Agrária foi:
a decisão histórica dos trabalhadores de avançarem para as terras, ocupá-las e cultivá-las, eliminando o latifúndio, numa altura em que a sabotagem económica levada a cabo pelos agrários punha em perigo a liberdade e a democracia acabadas de conquistar;
logo ao fim de um ano, 1 140 000 hectares de terra ocupados e a produzir como nunca antes acontecera;
mais de 50 000 postos de trabalho criados, acabando com o desemprego e com a fome;
a criação de uma vasta rede de creches, jardins de infância, centros da terceira idade;
a transformação das velhas relações de produção capitalistas em relações de cooperação e solidariedade, pondo termo, naquele universo e naquela situação concreta, à exploração do homem pelo homem;
o Futuro a ser construído.


4 - Outra vez o tempo velho

A contra-Reforma Agrária foi:
a restauração do latifúndio através de um processo criminoso e devastador iniciado pelo Governo PS/Mário Soares, em 1976, e prosseguido por todos os governos que se lhe seguiram: Sá Carneiro, Mota Pinto, Balsemão/Freitas, Cavaco Silva...
todos recorrendo ao golpe, à fraude, à mentira, à calúnia, à ilegalidade;
todos ordenando os roubos de terras, de colheitas, de cortiça, de máquinas, de alfaias, de gados;
todos fora-da-lei, violando ostensivamente a Constituição da República e rasgando insolentemente centenas de decisões favoráveis à Reforma Agrária emitidas pelos tribunais; todos não hesitando em submeter o Alentejo a ferro e fogo, em mandar perseguir, prender, submeter a interrogatórios pidescos, torturar, milhares de trabalhadores - em mandar disparar, ferir, matar;
todos destilando o ódio de classe que os invadia e exibindo-se como serventuários caninos dos velhos latifundiários - dos mesmos que, anos antes, tinham Salazar como seu serventuário canino;
o Passado retrógrado, explorador e opressor regressado aos campos do Alentejo.


5 - O FUTURO:
a certeza de que a Reforma Agrária nos mostrou um pedacinho do Futuro pelo qual lutamos;
a certeza de que não há Democracia sem uma Reforma Agrária que restitua a terra a quem a trabalha;
a certeza de que os mortos, não os deixamos para trás, abandonados;
a certeza de que a luta continua;
a certeza de que VENCEREMOS.