Passo num gesto que eu sei
deste mundo agoniado para o espaço
onde sou quanto serei
no tempo que sobra escasso
No outro mundo sou rei
e o meu rosto de cristal e puro aço
é o espelho que forjei
com suor pena e cansaço
E se o mundo que deixei
tem as marcas desenhadas do meu passo
são baralhas que enredei
são teias de vidro baço
Tantas provas cá terei
tantas vezes do pescoço solto o laço
se me sagraram em rei
aceitem a lei que eu faço
Vem a ser que o homem novo
está na verdade que movo
José Saramago