Thursday 1 July 2010

Soneto - XLVIX

É hoje: todo o ontem foi caindo
entre dedos de luz e olhos de sonho,
amanhã
chegará com passos verdes:
ninguém detém o rio da aurora.

Ninguém detém o rio de tuas mãos
os olhos de teu sonho, bem-amada,
és tremor do tempo que transcorre
entre luz vertical e sol sombrio,
e o céu fecha sobre ti suas asas
levando-te e trazendo-te a meus braços
com pontual, misteriosa cortesia:

por isso canto ao dia e à lua,
ao mar, ao tempo, a todos os planetas,
a tua voz diurna e a tua pele noturna.


PABLO NERUDA