Saturday 15 November 2008

As casas

Oh as casas as casas as casas suspirou Ruy Belo
Quando olhamos para as casas alguma coisa estremece
alguma coisa chama alguma coisa espera
Olho-te com os olhos das casas respiro-te ao abrir cada janela

e atravesso as portas como se penetrasse o teu corpo angustiado e nu
conquistando o interior da casa o ventre do teu ventre
soltando meu grito quando o coração em vértice
desce para as mesas e um fino pó se ouve cair das lâmpadas

Dentro da casa agitam-se as bandeiras do ar
quando os teus passos se moldam ao silêncio
e tudo é escuro espesso e escuro
e nada se passa no meu peito nada em festa corre para as tuas mãos
Se nos olhamos nos olhos para as casas
porque as casas têm um sol bancos de jardim e lâmpadas
que se acendem apenas com beijos

Joaquim Pessoa